jeudi, décembre 28, 2006

Eu sou do Bem

Ainda pleno do passado espírito natalino, e revitalizado pelo alcoólico clima do espírito ano-novístico, sinto-me feliz ao anunciar o que já sabia, e, ao que parece, algumas pessoas relutavam em reconhecer: o Cabaré é do Bem!!!


Este site é certificado como 76% BOM pelo Gematriculator


Assim, espero atrair novos e mais belos comentários aos meus posts, além dos meus já freqüentadores assíduos, como o Conde e a Anahid (sim, mulheres também gostam de cabarés), apesar da não muito confiável técnica de avaliação do site.
Quanto ao Ano Novo, desejo a todos, apenas por educação, toda aquela metralha de lugares-comuns e redundâncias com a qual creio que todos, infelizmente, estejam acostumados.
Para esse ano, mesmo, do fundo de meu coração, espero que todos vocês parem de acreditar em epifanias e demais tralhas do espírito, encarem o mundo como ele realmente é, ou seja, uma eterna repetição ilógica de dores e desejos mal-fadados que, vez ou outra, aliviamos com doses homeopáticas (bem pequenas, do contrário não seria o mundo) de álcool, drogas e sexo – no meu caso, o mais sincero, o sexo pago. Espero, mesmo, que à meia-noite alguém pense nas pobres putas solitárias sem amor, e em seus clientes, pobres putos solitários, lobos sem pêlos. Espero que alguém pense nas pobres pessoas frias, caladas, medrosas dos outros, cabisbaixas, bailando em seus mundos internos.
Pensem nos bêbados, nos drogados, nos loucos, e no quanto vocês são felizes por eles existirem, por serem eles os bodes expiatórios, os panos de fundo das tramas da Globo; no quanto vocês são felizes por eles terem uma vida “pior do que a tua”. Logo você, que diz amém ao chefe e todo fim de ano tem medo de ser mandado embora. Logo você, que já nem sabe por que está casado, ou namorando. Logo você, que vive na sombra constante do que pode se tornar, do que pode não conseguir. Espero que pensem, todos, na amargura de beber sozinho; e que se lembrem, enfim, de que essa angústia também é de vocês, também está aí, em algum lugar, disfarçada em dietas, roupas caras, carros do ano, vaidade e sorrisos condescendentes. Espero que se lembrem de que são humanos, e de toda carga de merda e lama que isso pode comportar, na qual a gente tem de chafurdar para fingir que vive no comercial de margarina, ou, às vezes, para fugir do comercial de margarina. Não espero, nem desejo, paz; amo a dor e espero, por isso, que pensem no que sempre pensei, na falta de toda e qualquer redenção. Não há vida além da vida.


PS: se não gostou do que leu, pouco me importa, pois, de acordo com o Gematriculador, eu sou do Bem!

mercredi, décembre 20, 2006

Pensatas

"O sofrimento, por exemplo, não é admitido nos vaudevilles, eu sei, sofrimento é dúvida, é negação, e o que vale um palácio de crital do qual se possa duvidar." Fiódor Dostoyévsi. Memórias do subsolo, p. 48.

***

Receio que minha aspiração ao abstrato – o ultraje à semântica que vez ou outra aplico, com fúria ou estudo, a meus escritos – flerte com o artificial; sai a poesia, entra um "jogral do cérebro". O problema não é entendimento, é comunicação. Sei que em nossos tempos é difícil dizer, mas sinto, ou temo, que seja preciso.

***

Afinal de contas, se o que quero da vida é sofrer, não será isso felicidade?

***

De 2006, não esquecer: o despretensioso lirismo dos sambas de antigamente.

***

Por outro lado, quem quer sofrer? Não será a tristeza um vício? Como aquela mulher bonita que te deu bola, e que te faz pensar que nenhuma outra mulher no mundo vai olhar para você be novo.

***

buscar:
o ritmo do vento, rasgado,
retirado de entranhas de flores.
o ritmo do rio, vário,
vazado em sendas do espaço,
em pétalas de finos sabores.

***

Um exercício para fazermos: dizer. O dizer em arte alimenta-se de um dizer não artístico, polêmico, um dizer político. Esse dizer de ação cria reações, outros dizeres, redizeres: pontos, anti-pontos, contrapontos. De acordo com esse ponto de vista, um mundo politicamente correto (o nosso) não vai criar porra nenhuma mesmo.

vendredi, décembre 08, 2006

O herói de todos nós...

Deu no Terra. O proletário quase matando a vaca capitalista:



Um homem com uma machadinha na mão seqüestrou sua chefe para conseguir de volta seu salário depois que foi demitido, em uma rua de Xi'an, na província de Shannxi, no noroeste da China.

A polícia recuperou a refém e prendeu o homem mais tarde, de acordo com a imprensa local.

Reuters

Pena que ele não foi até o fim.

vendredi, décembre 01, 2006

Antônio Candeia Filho (Candeia) 17/8/35 - 16/11/78.

Filho de sambista, o menino Candeia até poderia guardar mágoa do samba. Em seus aniversários, ele contava com certa tristeza, não havia bolo, velinha, essas coisas de criança. A festa era mesmo com feijoada, limão e muito partido-alto. No Natal, a situação se repetia.

Seu pai, tipógrafo e flautista, foi, segundo alguns, o criador das Comissões de Frente das escolas de samba. Passava os domingos cantando com os amigos debaixo das amendoeiras do bairro de Oswaldo Cruz. Assim, nascido em casa de bamba, o garoto já freqüentava as rodas onde conheceria Zé com Fome, Luperce Miranda, Claudionor Cruz e outros. Com o tempo, aprendeu violão e cavaquinho, começou a jogar capoeira e a freqüentar terreiros de candomblé. Estava se forjando ali o líder que mais tarde seria um dos maiores defensores da cultura afro-brasileira. Arte negra era com ele mesmo.

Compôs em 1953 seu primeiro enredo, Seis Datas Magnas, com Altair Prego: foi quando a Portela realizou a façanha inédita de obter nota máxima em todos os quesitos do desfile (total 400 pontos).

No início dos anos 60, dirigiu o conjunto Mensageiros do Samba. Em 61, entrou para a polícia. Tinha fama de truculento e suas atitudes começaram a causar ressentimentos entre seus antigos companheiros. Provavelmente, não imaginava que começava a se abrir caminho para a tragédia que mudaria sua vida. Diz-se que, ao esbofetear uma prostituta, ela rogou-lhe uma praga; na noite seguinte, ao sair atirando do carro num acidente de trânsito, levou um tiro na espinha que paralisou para sempre suas pernas.

Sua vida e sua obra se transformaram completamente. Em seus sambas, podemos assistir seu doloroso e sereno diálogo com a deficiência e com a morte pressentida: Pintura sem Arte, Peso dos Anos, Anjo Moreno e Eterna Paz são só alguns exemplos. Recolheu-se em sua casa; não recebia praticamente ninguém. Foi um custo para os amigos como Martinho da Vila e Bibi Ferreira trazerem-no de volta. De qualquer maneira, meu amor, eu canto, diria ele depois num dos versos que marcaram seu reencontro com a vida.

O couro voltou a comer nos pagodes do fundo de quintal de Candeia que comandava tudo de seu trono de rei, a cadeira que nunca mais abandonaria.

No curto reinado que lhe restava, dono de uma personalidade rica e forte, Candeia foi líder carismático, afinado com as amarguras e aspirações de seu povo. Fiel à sua vocação de sambista, cantou sua luta em músicas como Dia de Graça e Minha Gente do Morro. Coerente com seus ideais, em dezembro de 75 fundou a Escola de Samba Quilombo, que deveria carregar a bandeira do samba autêntico. O documento que delineava os objetivos de sua nova escola dizia: Escola de Samba é povo na sua manifestação mais autêntica! Quando o samba se submete a influências externas, a escola de samba deixa de representar a cultura de nosso povo.

No mesmo ano de 75, Candeia compunha seu impressionante Testamento de Partideiro, onde dizia: Quem rezar por mim que o faça sambando.

Em 78, ano de sua morte, gravou Axé um dos mais importantes discos da história do Samba. Ainda viu publicado seu livro escrito juntamente com Isnard: Escola de Samba, Árvore que Perdeu a Raiz.

Com a palavra final, Candeia (do samba Anjo Moreno):

Sim, me disseram que o céu é harmonia e paz
...........................................
Mas se eu for pra lá, ao descansar
Vou cantar e sambar
Com um anjo moreno



Axé, mestre Candeia... saudade.


PS: foi muito difícil escolher uma música de nosso divino moreno. Assim, divido com vocês duas (e ainda é pouco) que considero exemplares:

De qualquer maneira

Conselhos de vadio