lundi, mars 27, 2006

La coda del diavolo: um fragmento...

O local é a varanda de uma pensão barata que imita mal e porcamente o estilo neo-clássico. Musgos, pegadas de animais e restos de plantas completam a decoração do ambiente. O pano de fundo é um fim de noite embalado a uma das suítes de Bach para violoncelo; portanto, seco, um tanto duro e solitário, como o vinho que a gente toma para sanar o mal da vida.
Temos dois personagens. O primeiro é o tenente Kirikov, homem alto e robusto, porém proprietário de um nível tal de palidez que desmente todo e qualquer delírio de saúde. Seus olhos se mexem como se procurasse algo com insistência e, quando param, demonstram que perderam guerras outras, talvez diferentes das que conhecemos. O segundo é o diplomata Potapov, homem de estatura mediana e traços salientes (obesos) a provarem uma vida de caráter monástico, de conversas, bebidas e jantares. Age como se a palavra nunca bastasse, água na areia que num repente é nada, toda a boca é labirinto. O que os toca é um ponto anódino do mundo, sem margem ou centro, cantos ou bordas; que é objeto, mas, contra a geometria, é todo curva (a reta que não deu certo) que nunca fecha. Dividem a terceira garrafa de vinho:


PS: era para ser uma peça que, como podem ver pela minha falta de habilidade, está quase virando um conto, bem do ruim por sinal. Costumava travar assim com a prosa, a propriamente dita, que, agora, por motivos vários, já flui com maior naturalidade. Se quiserem, os explico em outra oportunidade. A questão é que ainda travo com o teatro. O diálogo, elemento central do gênero, sai-me frouxo, transmuta-se em elocuções verbais racionalizadas e, zas! Vira discurso. De qualquer forma, aí vai esse começo de não sei que, didascalie arruinada pela incompetência. E, sobretudo, espero contribuições daquele com quem iria escrever essa “peça” a quatro mãos. Passo a bola!

mercredi, mars 15, 2006

...ele deu adeus. E, por algum motivo, sentia-se mais morto do que nunca ousara estar antes. Aquela sensação de vazio incontinente esgotava-lhe o espaço do peito, crescia em nervura rumo ao crânio e de pronto assaltava o corpo, cada músculo, erva daninha. Ele deu adeus. Nunca mais a voz ou o sorriso a dar a vez. Nunca mais o olhar. Ela agora, membrana de outrora, película, mito em mar que marca o céu de alhures. Uma mão que balança vária no parapeito e que faca faz-se fenda no olhar que vai embora... Ele deu adeus. Delirou-se à cal, subterrâneo, como nunca, e passo e passo à frente reinava o medo-câncer de esquecer a cor do mundo...



Licença Creative Commons

Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons.