lundi, novembre 14, 2005

Sobre o fim

Em uma segunda qualquer, Deus, escriba sem estética, resolveu, enfim, rasgar sua obra; um Flaubert já o teria feito há tempos. Enredo sem lirismo, propósito, fechamento.
Ligo para a flor de dezoito anos que cortou meus fios de suicídio com um sorriso. Deixo um recado, em que simples digo fácil o que foi uma flor sorrir para mim. Fechamento. Digo à minha mãe que a amo, como ela sempre quis ouvir. Ela chora. Abraço meu pai. Cúmplices; ternura rija. E o Corinthians? Fechamento. Ligo para os poucos amigos. Choramos ao telefone; corretos, não querem deixar suas companheiras. Fechamento. Vou à praia. Ligo o som. Pego umas cervejas que trouxe e sento-me na areia. Sempre disse que seria feliz quando eu pusesse sentar-me à praia ao meio-dia de uma segunda-feira, tomando cerveja. Feliz? Fins não precisam de adjetivos. Basta o fechamento.

jeudi, novembre 10, 2005

Cabaré Voltaire: elas sempre pensam em você



Modernidade, conforto e comodidade: três palavras a serviço do prazer em um só produto. Venha conferir.

dimanche, novembre 06, 2005

Fisiologia da moral: um ensaio

Ela tinha aquela curiosidade mórbida, presa ao detalhe, típica de engenheiros, terapeutas e leitoras de revistas de fofoca. Jamais se dava por contente com explanações simples, ou panorâmicas, a respeito de um tópico, qualquer que fosse. Gostava de aprofundar, cavar, diria, mesmo, futucar a vida alheia; uma verdadeira gulodice pelo pormenor. Certo dia quando estávamos a sós, disse-lhe:

- Vai, vira e me dá o cuzinho!
- Nossa que isso?!
- Ah, vá! Agora vem com falso pudor?
- Mas, assim, na lata...
- Uai, mas não é você a que retalha a carne da vida, exibindo-lhe as veias, em sangue e química?!
- Ah... Mas, no amor, meu bem, no amor, até para dar o cu tem que ser sublime...