mardi, mai 29, 2007

De estômagos e invasores

Antes que alguém diga besteira: sim, os decretos do Serra são inconstitucionais, e sim, os professores podem, e devem, se revoltar contra medidas que tolhem suas aposentadorias.
Num país em que juiz ladrão se aposenta com pelo menos oito barõezinhos por mês, o escoadouro da República, e do Estado, deve ser procurado alhures.

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Maldadezinha: conversando com um professor, ele me disse, galhofeiro, que, ao abraçar a profissão, fizera o voto de pobreza. Revelou, ainda, que já tinha calculado o “incrível” (em tom irônico) aumento que receberia, caso a greve “desse certo”: R$ 120,00. Fiz uma continha rápida, regrinha de três simples, e cheguei ao salário do mestre. Cerca de R$ 3800,00. Não é uma fortuna, claro. E claro também que ele é um homem esforçado, trabalhador, estudado... Mas R$ 3800,00, no Brasil, tá bem longe de ser voto de pobreza...

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O que me irrita, mesmo, profundamente, é o quê de patético dessa tal invasão. À vezes, me pego pensando se as pessoas que a perpetraram tentam justificar o ato. E se tentam, de que forma, a partir de qual malabarismo argumentativo.

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Mestres eles têm, e experientes! Fiquei sabendo que a Marilena Chauí vai dar uma nova matéria na Filosofia: Contorcionismo argumentativo I...

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Quando entrei na FFLCH, em 2000, o que mais me orgulhava (adolescência...) era o fato de ter feito uma opção pelo pensamento. Sim, o pensamento! Estava num lugar em que havia pessoas apaixonadas pelo pensar descompromissado, diletante, enraizado numa ética do indivíduo. Por algumas horas por dia, estava fora do barbarismo do cotidiano e da lei do capital. Sete anos depois, até que encontrei muito disso, sim. Porém, para meu espanto, a maior parte das pessoas está ligada a um discursinho pseudo-engajado, óbvio e repetitivo até as tripas, que não se cansa de rodar no círculo enferrujado da extinta Cortina de Ferro.

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Afinal, o que pensam tais criaturas que lá se encontram? Elas acham que haverá capitulação da parte da Reitoria apenas pelo fato de duas dúzias de cabeludos terem ocupado um prédio? Que tipo de retórica é essa que inviabiliza o debate? Que apela para artifícios de guerrilha? Será que foram esgotados todos os artifícios legais?

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Fora esse cheiro de massa de manobra que inalamos assim, quase sem querer...

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Lembro-me de um amigo que, no auge da excitação alcoólica, certa vez, disse em altos brados que, se vivesse na época da Ditadura, teria pego em armas! Hoje, casado, pedindo à patroa permissão para tomar uma cerveja na esquina, luta para pagar o aluguel e não sai de casa nem para comprar pão, quanto mais para lutar.

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Pelo menos esse meu amigo deixa-se levar pelo “se”, não é mesmo?

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Aos invasores, a moral da história: o homem, no final das contas, faz o que o estômago mandar. A cabeça e o coração só fazem merda.