mardi, juillet 29, 2008

Intermezzo para lirismo bruto

– ... e a questão é que o jovem, hoje, é o fruto maturado de uma sociedade longitudinal, a-ideológica. Por um tempo, até meados da metade do século XX, mais ou menos, as ideologias (cada uma a sua forma) substituíram as religiões, e, como humanismos castrados de universalidade, pregaram suas éticas. Coisa muito diversa ocorre hoje, em que vemos os jovens não mais preocupados com projetos de futuro, com políticas de bem-estar. O vácuo ideológico enovela o homem em torno de seu cerne mais primevo; a ordem da vez é o sucesso pessoal, a individualidade, o próprio nariz. As pessoas querem a satisfação de suas necessidades mais básicas.

– E você, poeta, o que você quer?

– Eu quero é morrer cedo.

dimanche, juillet 27, 2008

Breve pensamento esparso

Aguente... Se te pagam, aguente... Essa é a lei do mundo.

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Vida regrada: melancolia profunda, mas passageira, e leves desconfortos biliáticos, porém contínuos.

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Se escrevo, sinto-me mal. O abismo que é dizer. Porém, sinto-me pior quando não. O abismo da futilidade. Não sei se sou escritor, ou se tal condição basta para que um me torne; no entanto, para mim prega-se clara uma necessidade.

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Nossa, como o domingo é lento.

mercredi, juillet 09, 2008

À noite, na cidade, o silêncio estica a sombra.
Na sala ampla, vazia de mares, o escrivão pensa na salvação do homem. O copo de cerveja, um ósculo; papéis em branco e o viaduto muito âmbar na janela. A verdade é uma pausa e o cheiro de costela assando na cozinha.

mardi, juillet 01, 2008

Este seja o poema

Teu pai e mãe fodem contigo.
Que não o queiram, tanto faz.
Legam-te cada podre antigo,
além de uns novos, especiais.

Mas de cartola e fraque outrora
os sacaneou do mesmo modo,
gente ora austero piegas, ora
se engalfinhando cega de ódio.

Passa-se a dor adiante: fossas
num mar que só fica mais fundo.
Dá o fora, pois, tão logo possas
sem pôr nenhum filho no mundo.

PS: poema de Philip Larkin, publicado na Folha desta segunda, na coluna de Nelson Ascher.