jeudi, janvier 05, 2006

Resoluções

Querer então uma ausência, uma falta, uma curva de esquina. Querer uma solidão concretizada nos seres e objetos do mundo, como se tudo me interpelasse; uma palavra fora da semântica, o pé na relva e o olho no ar. Uma palavra que suasse água e lágrima de cal, queimando.
No fim, resta um ser que é fim de trilho; terra arrasada, a porta da casa quebrada e a tristeza no porão a tossir.
Resta essa vontade de ser pó. O pó que resta nas frestas dos móveis, o pó que gruda nos vidros dos carros, o pó acumulado nas roupas há tempos encostadas. Ser das rochas a ruga inaudita, imperceptível. Na cachoeira a gota que escapa do conjunto e deita, indolente, na pétala da flor. Resta ser a folha que voa e abandona suas irmãs na copa, com a esperança mórbida de encontrar o forte sol da tarde. Ser as estrias do mármore imperfeito. Ser o desvio, o assovio do vento que bate incólume à proa.
Resta enfim essa vontade grande de lado algum, impulso de deixar passar. Parar de andar e guardar solene a espera, no pé da encruzilhada.

1 Comments:

Blogger Unknown said...

me resta querer então que os anjos me levem, e que a terra que repousa sobre meu leito seja fria, tal qual meu coração...

3:04 AM  

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