dimanche, décembre 04, 2005

Mera memória

Mas o que eu queria, hein? Drummond foi funcionário público e também bateu cartão por muito tempo. Sou poeta. Queria o ascetismo da arte (o marmóreo Mallarmé), da poesia, mas pesa o empecilho da escrita, a vida. Horários, prazos, reuniões e toda sorte de pedras que entulham nossa vida e nossos rins: escravo de símbolos sociais e necessidades fisiológicas. “Vou ser o Machado do Lirismo”, pensava. Chorava com Baudelaire (ainda choro, mas agora é tristeza). No final, a velhice é essa memória dos ossos que não guarda muita arte, essa pretensão boba, e válida, de ser mais que a vida. Não sobra mais do que um retrato pardo que aquece o estômago e traz um cheiro, um toque, um tudo; sublimação na carne. De repente, assumo, naquele café sujo no centro, a ascese do tato: ela vira, me olha, sorriso, me toca, todo empolgado a falar de livros: “Me beija logo vai!”.

1 Comments:

Anonymous Anonyme said...

Seria a memória "mera"? Não seria interessante comuntar a nasal por uma oclusiva e a tepe por uma lateral... =)

Fátima

7:14 AM  

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