Cena suspensa
O boy, o gibi. O careca, a coçada. A tia balança a cabeça. O boy, a madame, batom e bonjour: vermelho. O paletó de pé lê e tira o pó do guarda-chuva. Toda sorte dessa gente superlota, enche, o meu saco e o metrô: eu e o tédio, meu amigo, o tédio anda comigo. Ponto final. A cena pára e com ela o meu olhar: redenção, suspenso o momento da entrada, ela filtra-me a visão e poda-me o saber – zagueiro driblado. A Lilith morena em curvas; o vestido transparente a mostrar, saliente, cada peça do jogo. A única mulher a anular-me os olhos, a única que vi com o corpo todo. Do alto de seu salto, ela tinha o poder de parar o tempo, de parar a vida, o pensamento, de ensinar o desejo na sala do silêncio. De todo o sal de sua sacanagem vinha sua coragem, respeito: Quem é macho pra me catar? Quem vai ser o sujeito? O metrô pára. Ela nos deixou, eu e meus poros, meu corpo pálido. Pateta.
4 Comments:
A tua cena faz-me sorrir.
Leia isso, acho a nossa cara:
Arranja-me um emprego
(Sérgio Godinho)
Tu precisas tanto de amor e de sossego
- Eu preciso dum emprego
Se mo arranjares eu dou-te o que é preciso
- Por exemplo o Paraíso
Ando ao Deus-dará, perdido nestas ruas
Vou ser mais sincero, sinto que ando às arrecuas
Preciso de galgar as escadas do sucesso
E por isso é que eu te peço
Arranja-me um emprego
Arranja-me um emprego, pode ser na tua empresa, concerteza
Que eu dava conta do recado e pra ti era um sossego
Se meto os pés para dentro, a partir de agora
Eu meto-os para fora
Se dizia o que penso, eu posso estar atento
E pensar para dentro
Se queres que seja duro, muito bem eu serei duro
Se queres que seja doce, serei doce, ai isso juro
Eu quero é ser o tal
E como o tal reconhecido
Assim, digo-te ao ouvido
Arranja-me um emprego
Arranja-me um emprego, pode ser na tua empresa, concerteza
Que eu dava conta do recado e pra ti era um sossego
Sabendo que as minhas intenções são das mais sérias
Partamos para férias
Mas para ter férias é preciso ter emprego
- Espera aí que eu já lá chego
Agora pensa numa casa com o mar ali ao pé
E nós os dois a brindarmos com rosé
Esqueço-me de tudo com um por-do-sol assim
- Chega aqui ao pé de mim
Arranja-me um emprego
Arranja-me um emprego, pode ser na tua empresa, concerteza
Que eu dava conta do recado e pra ti era um sossego
Se eu mandasse neles, os teus trabalhadores
Seriam uns amores
Greves era só das seis e meia às sete
Em frente ao cacetete
Primeiro de Maio só de quinze em quinze anos
Feriado em Abril só no dia dos enganos
Reivindicações quanto baste mas non tropo
- Anda beber mais um copo
Arranja-me um emprego
Arranja-me um emprego, pode ser na tua empresa, concerteza
Que eu dava conta do recado e pra ti era um sossego
Boa descrição... Beijos
Ah eu, Anahid, sou o anônimo rs
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