Preso, pois, à prosa
Até o momento, procurei dedicar esse espaço exclusivamente ao sublime, seja ele dotado de uma melancolia criadora de caráter inegavelmente ibérico, centrada num “eu” a um só tempo lábil e sobrepujante, ou ornado de veia humorística, o pé-no-chão do espírito poético. Creio que nossa vida já seja muito cheia de prosa; e não a grande, mas essa prosa suja e mesquinha que entremeia e escangalha nosso ar, nossa visão, nossa pele, órgãos, nosso sexo e nossos ossos. A vida, crise, anda muito cheia de crônica e o melhor regime para sanar essa doença, penso, é o sublime, o belo, alguma forma de flerte com a arte.
Porém, dia menos dia, o real bate-nos à porta. O real, com suas garras mesquinhas, gigantes e fétidas. Com seu sorriso de escárnio. Com o suor a pingar do rosto, a bafejar em nossas costas. Estupra-nos. Lembra o que somos: carne, cálcio, gotículas, instinto e pó. Zomba da essência e aponta-nos um espelho, a gargalhar: Contempla-te!
Venceu a barbárie, ontem. Em larga escala, decidimos pelo sangue a jorrar, contra a vida. Decidimos pelo cultivo do medo, planta preta e irrisória, cega. Apontando o dedo contra o crime, sujamos nossas mãos de sangue e, como num ritual satânico, banharemos nosso orgulho e ignorância no sangue de crianças inocentes e de donas de casa esquálidas. Fatiga-me essa lógica, e entristece-me, tão troncha e estúpida seja.
Enfim, não é muito, sei, mas precisava dizê-lo. Desculpe-me se não foi possível, hoje, o belo; ao menos tentar o sublime. A realidade bate a nossa porta, e com ela não mais que o silêncio.
Porém, dia menos dia, o real bate-nos à porta. O real, com suas garras mesquinhas, gigantes e fétidas. Com seu sorriso de escárnio. Com o suor a pingar do rosto, a bafejar em nossas costas. Estupra-nos. Lembra o que somos: carne, cálcio, gotículas, instinto e pó. Zomba da essência e aponta-nos um espelho, a gargalhar: Contempla-te!
Venceu a barbárie, ontem. Em larga escala, decidimos pelo sangue a jorrar, contra a vida. Decidimos pelo cultivo do medo, planta preta e irrisória, cega. Apontando o dedo contra o crime, sujamos nossas mãos de sangue e, como num ritual satânico, banharemos nosso orgulho e ignorância no sangue de crianças inocentes e de donas de casa esquálidas. Fatiga-me essa lógica, e entristece-me, tão troncha e estúpida seja.
Enfim, não é muito, sei, mas precisava dizê-lo. Desculpe-me se não foi possível, hoje, o belo; ao menos tentar o sublime. A realidade bate a nossa porta, e com ela não mais que o silêncio.
3 Comments:
Podemos mandar rezar aïnda uma missa de sétimo dia pelo cérebro dissolvido das gentes ignaras.
Não seja tão EmoKid, Jeff.
Homem de letras e pensamentos como você deveria entender que a ARMA não mata.
Quem mata é o cara que puxa o gatilho da dita cuja e que, antes disso, já arquitetou no pensamento o ataque ao alheio.
Não houve vitória de barbárie alguma: ela JÁ VENCEU faz tempo, fomentada pela injustiça social, educacional e ética.
Todos nós iremos morrer, mas é preferível morrer lutando do que clamando aos deuses por uma justiça que VOCÊ é que deveria estar fazendo, não é?
Cheer up, Emo Kid!
Ah, sim, só mais uma coisa:
A morte do alheio começa no pensamento.
A arma usada na agressão é apenas a concretização desse pensamento.
A arma em si é desapaixonada como uma faca, uma chave-de-fenda ou um pneu.
Mas quem a manipula pode tanto se defender com ela de um ataque, pode caçar ou matar animais peçonhentos e doentes, como pode atingir um semelhante.
O segredo está no pensamento, EmoKid.
O segredo está no pensamento.
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