dimanche, juillet 30, 2006

Correspondências?

Edgar Poe, sua vida, suas obras.

Há algum tempo, foi levado diante de nossos tribunais um infeliz cuja fronte estava marcada com um raro e singular sinal: Desafortunado!
Ele carregava, dessa forma, acima dos olhos, a etiqueta de sua vida, como um livro carrega seu título; o interrogatório provou que esse incomum escrito era cruelmente verídico. Há, na história da literatura, destinos análogos, verdadeiras danações; homens que levam a palavra fracasso escrita em caracteres misteriosos nos detalhes sinuosos da face. O Anjo cego da expiação deles se apossou e os chicoteia com toda a força dos braços para a edificação dos outros. Em vão, essas vidas mostram talentos, virtudes, graça; a Sociedade tem por elas um anátema especial, acusando-as de enfermidades dignas de perseguição. O que não fez Hoffman para desarmar o destino? O quanto Balzac não empreendeu para conjurar a fortuna? Existe, então, uma Providência diabólica que cultiva a infelicidade do berço? Que joga com premeditação naturezas espirituais e angélicas em meios hostis, como mártires em circos? Haveria, portanto, almas sagradas, devotadas ao altar, condenadas a marchar para a morte e para a glória em meio às próprias ruínas? O pesadelo das Trevas negligenciará eternamente a escolha dessas almas?
Inutilmente, elas se debatem, inutilmente, elas se adaptam ao mundo, a sua previsibilidade, a suas manhas; elas aperfeiçoarão a prudência, fuçarão todas as saídas, protegerão as janelas contra os projéteis do acaso; porém, o Diabo entrará por uma fresta; a perfeição será o defeito de suas armaduras, e suas qualidades superlativas, o germe da danação.

Trechos iniciais do ensaio de Baudelaire sobre Edgar A. Poe (Edgar Poe, sa vie, ses oeuvres), porcamente traduzido por esse que vos escreve.

1 Comments:

Anonymous Anonyme said...

ah, não vem com essa de intelectual que eu sei que você joga bola pra caralho!

12:43 AM  

Enregistrer un commentaire

<< Home